quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Boca do Lixo

Por: Clodos Paiva

Vendo seus companheiros mais velhos serem empurrados para dentro da barca como se fossem lixo, o garoto foi surpreendido pelo simpático PM que lhe berrava: "O quê você está fazendo aqui fora ainda, héim ô, seu rascunho de nóia?", enquanto desrosqueava a sua orelha no beliscão.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Emily Dickinson

Para as assombrações, desnecessária é a alcova,
Desnecessária, a casa -
O cérebro tem corredores que superam
Os espaços materiais.

Mais seguro é encontrar à meia-noite
Um fantasma,
Que enfrentar, internamente,
Aquele hóspede mais pálido.

Mais seguro é galopar cruzando um cemitério
Por pedras tumulares ameaçado,
Que, ausente a lua, encontrar-se a si mesmo
Em desolado espaço.

O "Eu", por trás de nós oculto,
É muito mais assustador,
E um assassino escondido em nosso quarto,
Dentre os horrores, é o menor.

O homem prudente leva consigo uma arma
E cerra os ferrolhos da porta,
Sem perceber um outro espectro,
Mais íntimo e maior.

IN: DICKINSON, Emily. Poemas escolhidos. Porto Alegre : L&PM Pocket, 2008.