segunda-feira, 30 de maio de 2011

Biblioteca Pública e Comunidade

Já estava mais que na hora de as bibliotecas públicas, no caso, as daqui de SP, começarem a tornar-se realmente públicas. Não só públicas, no sentido de abrirem suas portas para que as pessoas entrem e façam suas tradicionais pesquisas, mas, no sentido de mostrarem às pessoas da comunidade que estes espaços são realmente delas. Espaços onde elas podem, além de aprimorar seus conhecimentos, crescerem como seres humanos.

E o papel tanto da instituição quanto dos profissionais que nela trabalham (os bibliotecários), é estimular a participação e a colaboração da comunidade, tanto na constituição de seu acervo, quanto na elaboração de atividades.

É o que vem acontecendo, por exemplo, na biblioteca Brito Broca no bairro de Pirituba (Z/O de São Paulo), onde a galera do Sarau Elo da Corrente desenvolve, há algum tempo, oficinas de contação de histórias, de declamação de poesia, além de suas tradicionais leituras, que cada vez mais vai vão conquistando e somando parceiros e admiradores da Arte Periférica.

Biblioteca Comunitária

Ontem foi reinaugurada a Biblioteca Solano Trindade na Cidade Tiradentes, extremo leste de São Paulo. A biblioteca é uma iniciativa da galera do Núcleo Cultural Força Ativa e já tem 10 anos - até pouco tempo atrás era a única biblioteca pública na Tiradentes. O pessoal do Força Ativa se encarrega autonomamente da manutenção do espaço, organização dos livros, do atendimento e das atividades desenvolvidas lá, como palestras, debates e shows. Tudo com a ajuda dos "bibliotecários da comunidade". Com a ajuda do Instituto Brasil Leitor, eles fizeram e ministraram cursos de gestores de bibliotecas, criando um corpo de pessoas para operacionalizar o trabalho. Além disso, no espaço funciona também um núcleo de direitos humanos.

Maiores informações: http://www.forcaativa.blogspot.com/

domingo, 29 de maio de 2011

Além de Ratinho e Superpop

É comum sociólogos e estudiosos apontarem a "massificação da cultura", "alienação cultural e política" de grande parte da população brasileira carente que não tem outro tipo de acesso à informação além daquelas que são veiculadas naquela caixa mágica, que não tem mais este formato, mas, cuja função continua a mesma, chamada televisão. E eles tem razão. As estratégias e métodos das classes dominantes para manterem as pessoas desconectadas da realidade, passivas e sempre consumindo; mantendo-as sob o estado de "anorexia informacional", ou seja, a falsa sensação de saciedade informacional e cultural que impedem as pessoas de ir além do que recebem, uma vez que supostamente elas estejam plenas e satifeitas.

Mas, felizmente, não são todas as pessoas que aceitam a comida, a diversão, e a arte racionada e mirrada que nos são empurrada goéla abaixo todos os dias. Uma parte da papulação das quebradas se cansaram de toda essa droga, que já vem malhada antes de nascerem, e estão criando elas próprias os seus próprios espaços culturais. Ouseja, tomando de assalto espaços inusitados e/ou inativos como bares, associação de moradores, terrenos baldios ou escolas e transformando-os em verdadeiros pólos de cultura onde procura-se fugir dos enlatados e criarem suas próprias receitas, seguindo seus próprios gostos: saraus poéticos, rodas de samba, teatro.

Portanto amigo(a) das quebradas deste mundaréu, agora não tem desculpas para ficar o tempo todo de folga afundado no sofazão assistindo Superpop ou Ratinho. É possível, falar que em todo o bairro tem alguma atividade cultural bacana rolando, é só chegar. E se ainda não tiver, crie uma você mesmo(a), porque você é capaz! Se quiser... Ôuxe!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Letras Periféricas - Sábado, 07/05

Letras Periféricas

Debate sobre a atual produção literária das periferias de grandes cidades brasileiras, como São Paulo e Rio de Janeiro, e sobre os caminhos e alternativas de publicação e circulação desta literatura. Com o escritor Paulo Lins, Érica Peçanha, Allan da Rosa e Anderson Quack. Biblioteca.

Livre.

Grátis.

Dia 07/05. Sábado, 18h30.

SESC Belenzinho [R. Padre Adelino, n.1000, bairro Belém, São Paulo-SP]

Confira a programação completa: http://www.esteticadaperiferia.org.br/?page_id=507

Virada Cultural – Palco Cultura Periférica

Por: Clodos Paiva


Na edição de 2011 da Virada Cultural a prefeitura resolveu dedicar um palco à Cultura da Periferia: apresentação de saraus, música e dança de poetas e artistas vindos desses bairros. Mas infelizmente, mesmo no centro, a periferia continuou se mantendo à margem. O palco não teve o público que merecia e nem a atenção que os outros tiveram por parte da organização do evento. E isto se deveu a pelo menos dois fatores de relevância:

O primeiro foi o atraso. Devido à complicações técnicas no palco a primeira atração (que era para ter início às 18hs) o grupo de rap Versão Popular, se apresentou às 21:20hs, ou seja, com quase três horas e meia de atraso. E mesmo assim o grupo foi prejudicado devido a uma queda geral de energia no palco enquanto cantavam a primeira música. Depois de esperar pelo retorno por mais de meia hora, desisti e fui embora.

O segundo fator que pode ter contribuído para o esvaziamento foi o isolamento do palco, que foi montado ao lado do viaduto Sta. Ifigênia, e que ficou distante tanto das atrações do “centro velho” (região da Sé) como das da Praça da República e Avenida São João que concentravam um maior fluxo de pessoas. Ou seja, para o palco ter um público bacana estava dependendo somente das pessoas que conheciam um pouco as atrações (meu caso), pois seu isolamento não permitia que, por exemplo, pessoas que saíssem de outros eventos pudessem cruzar o palco no meio do caminho e quem sabe prestigiar alguma atração.

Como fui embora, não pude conferir as outras atrações que estavam programadas para o sábado que eu tanto queria: Sarau Cooperifa e Samba da Vela; e nem soube como que transcorreu o evento depois daquele transtorno.

No domingo à tarde reapareci para curtir o Sarau Elo da Corrente, do bairro de Pirituba (que fica do lado bairro onde nasci e cresci, o Jaraguá) e cujo trabalho eu acompanho, além de conhecer alguns de seus poetas integrantes, enfim, um lance sentimental... Sua apresentação seria precedida pela do grupo Umoja que estava marcada para às 15hs. E mais uma vez rolou atraso por causa da aparelhagem! Em mais de uma hora. Mas desta vez fui teimoso e resolvi esperar, pois estava abastecido com sandubas de mortadela e um litrão de água dentro da mochila, e além disso, estava com muita vontade de ver emanar daquele povo todo aquele axé que rola todas as quintas-feiras no bar do Santista.

E valeu muito a pena! Porque a 1ª atração do horário das 15hs (que começou quase às 16hs), o grupo Umoja subiu ao palco já espantando toda aquela vibe negativa com seus batuques, cantos e “giras”, inspirados nas tradições e religiões de origem africanas e com suas dançarinas que tomaram conta da rua. As poucas pessoas que por ali iam passando paravam e se aglomeravam para contemplar e interagir com o grupo.

Logo depois, sem demora, subiu o Elo da Corrente entoando ao som do berimbau e dos atabaques aladainha de evocação e convocação dos(as) poetas:
“Tambor, tambor
Vai buscar quem mora longe...
Vai buscar todos poetas
pra falar no meu sarau!”
E com suas poesias, cantorias e mandingas limparam de vez o terreiro das urucubacas ruins causadas pelos atrasos e falhas técnicas, enfim.

Se essas falhas foram propositais, eu não sei (mas é para se pensar), pois, mais uma vez, houve descaso por parte da prefeitura com o povo da periferia, como aconteceu com os Racionais MCs na Praça da Sé em 2007, e como vem acontecendo na saúde, na educação e nos transportes.

Disso pode-se concluir uma coisa: que o nosso prefeito Gilbertinho é totalmente alérgico à pobres, e sua administração é voltada para eliminá-los de sua vista. Pois se ele higieniza o Centro removendo os mendigos e os crackeiros, porquê não fazer o mesmo com os artistas e poetas das quebradas?








Versão Popular

Umoja


Elo da Corrente

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Boca do Lixo

Por: Clodos Paiva

Vendo seus companheiros mais velhos serem empurrados para dentro da barca como se fossem lixo, o garoto foi surpreendido pelo simpático PM que lhe berrava: "O quê você está fazendo aqui fora ainda, héim ô, seu rascunho de nóia?", enquanto desrosqueava a sua orelha no beliscão.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Emily Dickinson

Para as assombrações, desnecessária é a alcova,
Desnecessária, a casa -
O cérebro tem corredores que superam
Os espaços materiais.

Mais seguro é encontrar à meia-noite
Um fantasma,
Que enfrentar, internamente,
Aquele hóspede mais pálido.

Mais seguro é galopar cruzando um cemitério
Por pedras tumulares ameaçado,
Que, ausente a lua, encontrar-se a si mesmo
Em desolado espaço.

O "Eu", por trás de nós oculto,
É muito mais assustador,
E um assassino escondido em nosso quarto,
Dentre os horrores, é o menor.

O homem prudente leva consigo uma arma
E cerra os ferrolhos da porta,
Sem perceber um outro espectro,
Mais íntimo e maior.

IN: DICKINSON, Emily. Poemas escolhidos. Porto Alegre : L&PM Pocket, 2008.