sexta-feira, 6 de maio de 2011

Virada Cultural – Palco Cultura Periférica

Por: Clodos Paiva


Na edição de 2011 da Virada Cultural a prefeitura resolveu dedicar um palco à Cultura da Periferia: apresentação de saraus, música e dança de poetas e artistas vindos desses bairros. Mas infelizmente, mesmo no centro, a periferia continuou se mantendo à margem. O palco não teve o público que merecia e nem a atenção que os outros tiveram por parte da organização do evento. E isto se deveu a pelo menos dois fatores de relevância:

O primeiro foi o atraso. Devido à complicações técnicas no palco a primeira atração (que era para ter início às 18hs) o grupo de rap Versão Popular, se apresentou às 21:20hs, ou seja, com quase três horas e meia de atraso. E mesmo assim o grupo foi prejudicado devido a uma queda geral de energia no palco enquanto cantavam a primeira música. Depois de esperar pelo retorno por mais de meia hora, desisti e fui embora.

O segundo fator que pode ter contribuído para o esvaziamento foi o isolamento do palco, que foi montado ao lado do viaduto Sta. Ifigênia, e que ficou distante tanto das atrações do “centro velho” (região da Sé) como das da Praça da República e Avenida São João que concentravam um maior fluxo de pessoas. Ou seja, para o palco ter um público bacana estava dependendo somente das pessoas que conheciam um pouco as atrações (meu caso), pois seu isolamento não permitia que, por exemplo, pessoas que saíssem de outros eventos pudessem cruzar o palco no meio do caminho e quem sabe prestigiar alguma atração.

Como fui embora, não pude conferir as outras atrações que estavam programadas para o sábado que eu tanto queria: Sarau Cooperifa e Samba da Vela; e nem soube como que transcorreu o evento depois daquele transtorno.

No domingo à tarde reapareci para curtir o Sarau Elo da Corrente, do bairro de Pirituba (que fica do lado bairro onde nasci e cresci, o Jaraguá) e cujo trabalho eu acompanho, além de conhecer alguns de seus poetas integrantes, enfim, um lance sentimental... Sua apresentação seria precedida pela do grupo Umoja que estava marcada para às 15hs. E mais uma vez rolou atraso por causa da aparelhagem! Em mais de uma hora. Mas desta vez fui teimoso e resolvi esperar, pois estava abastecido com sandubas de mortadela e um litrão de água dentro da mochila, e além disso, estava com muita vontade de ver emanar daquele povo todo aquele axé que rola todas as quintas-feiras no bar do Santista.

E valeu muito a pena! Porque a 1ª atração do horário das 15hs (que começou quase às 16hs), o grupo Umoja subiu ao palco já espantando toda aquela vibe negativa com seus batuques, cantos e “giras”, inspirados nas tradições e religiões de origem africanas e com suas dançarinas que tomaram conta da rua. As poucas pessoas que por ali iam passando paravam e se aglomeravam para contemplar e interagir com o grupo.

Logo depois, sem demora, subiu o Elo da Corrente entoando ao som do berimbau e dos atabaques aladainha de evocação e convocação dos(as) poetas:
“Tambor, tambor
Vai buscar quem mora longe...
Vai buscar todos poetas
pra falar no meu sarau!”
E com suas poesias, cantorias e mandingas limparam de vez o terreiro das urucubacas ruins causadas pelos atrasos e falhas técnicas, enfim.

Se essas falhas foram propositais, eu não sei (mas é para se pensar), pois, mais uma vez, houve descaso por parte da prefeitura com o povo da periferia, como aconteceu com os Racionais MCs na Praça da Sé em 2007, e como vem acontecendo na saúde, na educação e nos transportes.

Disso pode-se concluir uma coisa: que o nosso prefeito Gilbertinho é totalmente alérgico à pobres, e sua administração é voltada para eliminá-los de sua vista. Pois se ele higieniza o Centro removendo os mendigos e os crackeiros, porquê não fazer o mesmo com os artistas e poetas das quebradas?








Versão Popular

Umoja


Elo da Corrente

5 comentários:

Anônimo disse...

Valeu Clodos!!
Foi tensa a parada, uns amigos se apresentaram lá também, do griots. Com muito tempo de atraso...
Beijo!!
Shis

Anônimo disse...

Para que serve a virada cultural?
Abs
Valmir

Verônica Lima disse...

Que pena que a democracia seja tão limitada na prática... :/
Eu sempre quis ir à uma Virada Cultural, mas se or pra ver esse tipo de coisa acontecer, acho melhor ficar no DF mesmo... Mas, como nem tudo tem só um lado negativo, pelo menos no domingo você viu coisas bacanas que aconteceram apesar do descaso.
O lance é lutar para que, nas próximas edições, o espaço da periferia seja melhor cuidado e mais respeitado.

Lukinha disse...

Isso mostra mais uma vez a importância que é dada à periferia e à cultura de rua nesses eventos. É lamentável.

abs
Lukinha

Sandra disse...

Olá Clodoaldo, muito bacana o seu blog, só achei o título um pouco macabro, risos.......Mas seus textos são bacanas, gostei das suas observações.

Abraços
Sandra