sexta-feira, 4 de abril de 2008

A CABANA E O SEU MAR

Por: Felipe Alexandrino


Hoje a solidão me força a escrever. Minha única companhia, por anos, é esta paisagem ao fundo da janela que nunca mudou. Nem mesmo o pássaro que chega a cada aparecer do sol, se difere do pássaro que se foi e não mais voltou.

As nuvens, sempre nubladas, estão a esconder a “timidez do sol”. Pra que irradiar uma cabana sem luz e um pescador que nem sequer tem um anzol?
Minha vida por anos tem sido assim, não reclamo dos dias, nem da agonia.
Sei que sou merecedor dessa areia que esconde o jardim.

O dia que "ô pai" se foi, tudo foi uma tristeza só. Ele saiu como qualquer pai de família faz, em busca de uma digna refeição. Então, ele caminhou distante e com muita fé em direção ao mar, parece que encontrou aquela luz que o sol não irradia, lá no fundo, nas profundezas da escuridão. Correu até o mar e pela ultima vez, lhe vi com seus pés no chão.

Desde "o ultimo caminhar” mamãe ficou muito só. Estendia sua roupa como todo dia, mas sem ter aquela mesma alegria que sempre me fez sorrir. Até o rádio de que ela tanto gostava, eu a vi desligar.
No fim daquela tarde, meus olhos encheram de lágrimas, nem mais a velha cabana me acolheu. Corri pela imensidão da areia, com passadas fortes a gritar: Onde? Onde é que está Deus??
E chorei! Como nunca! Até a noite aparecer no fundo da minha janela.

Os dias se passaram e mamãe piorou, O que era uma falta de espírito, em doença se transformou. Logo vi, não faltava muito para o mar também lhe chamar. Numa certa manhã minha previsão aconteceu. Cheguei à nossa velha cabana, e a procurei por todo lugar. Na vila, no brejo, nas montanhas, ao redor da imensidão do mar.
- “Que coisa mais estranha! A mamãe não levanta da cama, desde o dia que deixei de sorrir”.
E o meu sorriso que há muito tempo não surgia, voltou junto com a esperança de ve-la caminhar por aí.
Saí pela porta a correr. Corri muito, por todas as partes. Caí na areia inúmeras vezes. Ansiava para lhe ver.
Pois bem, essa esperança foi se acabando, aos poucos, até a hora do amanhecer. Mamãe também foi ao encontro do mar. Como logo imaginei.

Não mais sorri, não mais falei. Nem mais chorei. Fiquei aqui, esperando esse dia chegar. Escrevo essa carta, com um pesar no coração. Sei bem que por muito tempo ficará nesta cabana, esperando por anos e anos, para que um dia, um nobre a leia. Do fundo do meu coração, sentirei falta dessa paixão tão simples, pela a janela, a cabana e a areia.

Mamãe e "ô pai" me esperam. Tenho que ir.
Meu conforto desde a infância.
Faz tanto tempo! Tanto tempo!
Já não vejo a hora de voltar a sorrir.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei este conto, lembrou-me dos tempos em que meu pai e eu viajavamos por este Brasil.

Muito bom, parabéns!