quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Canção do Carcereiro - Por Jacques Prévert*

Aonde vais belo carcereiro
Com essa chave manchada de sangue
Vou soltar aquela que amo
Se ainda for possível
E que tranquei
Ternamente cruelmente
No mais secreto do meu desejo
No mais profundo do meu tormento
Nas mentiras do futuro
Nas bobagens das juras
Quero soltá-la
Quero que seja livre
Até para me esquecer
Até para ir-se embora
Até para voltar
E também para me amar
Ou para amar um outro
Se esse outro lhe agradar
E se ficar um dia sozinho
E ela só em idas
Guardarei apenas
Guardarei sempre
Nas minhas duas mãos côncavas
Até o fim dos dias
A doçura dos seus seios modelados pelo amor.
*PRÉVERT, Jacques. Poemas. Nova Fronteira, 1985.

2 comentários:

Verônica Lima disse...

Que delícia de poema!
Engraçao, você escrevendo sobre Liberdade e eu sentindo meus tornozelos envoltos pelos grilhões quentes e macios da Paixão... a Prisão na qual nos internamos voluntariamente, essa gaiola dourada... ai ai...

Anônimo disse...

conheço este poema há muitos e muitos anos, e hora ou outra sinto vontade de lê-lo. Jacques Pr[evert foi uma boa seleção, assim como seus outros autores. Parabéns. Taniac